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Cannes 2011

Cannes 2011

Eis os vencedores do Festival de Cannes 2011. Ano de algumas polêmicas, ótimos filmes, fracassos, vaias e aplausos; em outras palavras: o costumeiro Festival de Cannes.

Prêmio Palma de Ouro: "A árvore da vida", de Terrence Malick
Melhor Atriz: Kirsten Dunst, por "Melancolia"
Melhor Ator: Jean Dujardin, por "The artist"
Melhor Diretor: Nicolas Winding Refn, por "Drive"
Melhor Roteiro: "Footnote", de Hearat Shulayim
Grande prêmio: "Garoto de bicicleta" e "Once upon a time in anatolia", de Nuri Bilge Ceylan .
Melhor Curta-metragem: "Cross country", de Marina Vroda
Prêmio Câmera de Ouro (para o diretor estreante em Cannes): "Las acacias", de Pablo Giorgelli
Prêmio de júri: "Polisse", de Maiwenn Le Besc

Crítica - Thor

Crítica - "Thor"



A colcha de retalhos que a Marvel costura desde Homem de Ferro, em 2008, ganha mais uma peça com Thor, o Deus do Trovão, filho de Odin. É claro que as ideias vindas das mentes da Marvel são ótimas, os detalhes que unem os filmes são excelentes, mas ás vezes tudo parece um prólogo para o que vai acontecer em Os Vingadores, que será o momento em que todos os herois se reúnem. A preocupação dos produtores em largar pistas no decorrer do filme, ainda que interessantes, muitas vezes desviam a atenção do espectador, como a breve aparição do Gavião Arqueiro ou as constantes referências a Tony Stark. Esses detalhes fazem Thor parecer uma simples peça de um quebra-cabeça, e não um filme solo de um interessante super-heroi. Mas este detalhe não prejudica a nova investida da produtora em seu universo graças ao ótimo elenco, a produção caprichada e a ótima direção de Kenneth Branagh.

Thor (Chris Hemsworth) estava prestes a receber o comando de Asgard das mãos de seu pai Odin (Anthony Hopkins) quando forças inimigas quebraram um acordo de paz. Disposto a se vingar do ocorrido, o jovem guerreiro desobedece as ordens do rei e quase dá início a uma nova guerra entre os reinos. Enfurecido com a atitude do filho e herdeiro, Odin retira seus poderes e o expulsa para a Terra. Lá, Thor acaba conhecendo a cientista Jane Foster (Natalie Portman) e precisa recuperar seu martelo, enquanto seu irmão Loki (Tom Hiddleston) elabora um plano para assumir o poder. A trama parece infantil, mas tal adjetivo não diz respeito ao roteiro e, sim, às versões originais de Thor. O conflito entre irmãos: o mau que deseja roubar o poder do bom (que é o favorito do pai) e todos os fatos que vêm acarretados; tudo é um clichê, mas bem utilizado em Thor, em parte pelo mundo em que tal conflito é ambientado, cheio de Deuses e cenários grandiosos, em parte pelo roteiro coeso escrito a quatro (!) mãos.

O grande acerto de Thor, desde o início, foi a contratação de Kenneth Branagh para o comando da fita. O cineasta, conhecidamente shakespeariano, que levou às telas Hamlet e Henrique V, usa todo o seu conhecimento acerca da mitologia e dos conflitos familiares para dar vida ao deus nórdico Thor. É bem verdade, diga-se, que Branagh exagera em alguns vícios (como o constante uso de planos inclinados), porém, o diretor enche os olhos do espectador com cenas vertiginosas e espetaculares. A sequência em Jotunheim, reino dos Gigantes de Gelo, por exemplo, é sensacional e certamente um dos melhores pontos do filme. Branagh, diferente de muitos cineastas, sabe manusear a câmera e fundir - sem confundir o espectador - efeitos visuais com cenários e pessoas reais. A sequência é eletrizante e divertida, o cartão de visitas perfeito. É nesse momento que Branagh mostra que é capaz de comandar uma aventura do cacife de Thor e prende o espectador levando-nos a uma emocionante aventura que passa pelo reino gelado de Jotunheim, pelo soberbo mundo de Asgard (o design é perfeito, e o longa poderia se passar inteiramente no reino governado por Odin) e pela Terra, onde o todo-poderoso Deus do Trovão conhece seu affair, Jane Foster (Natalie Portman).

O elenco é um grande acerto. Chris Hemsworth é carismático e talentoso, e as dúvidas acerca da capacidade do ator caem por terra ao ver que o australiano sabe segurar o filme praticamente sozinho. As presenças de Kat Dennings e Stellan Skarsgård, ainda que secundárias, são interessantes. O único "porém" é Natalie Portman. O papel da atriz é pequeno, simples e mal desenvolvido. O relacionamento entre Thor e sua cientista é superficial, e, ainda que a atriz se esforce, o público não consegue sentir empatia por sua personagem, já que pouca coisa relevante sobre ela é dito. Anthony Hopkins, ainda que pareça atuar no piloto automático, parece, ao menos, se divertir interpretando Odin, e o velho Hannibal Lecter na pele do rei de Asgard é, certamente, a escolha mais acertada da produção. A surpresa mesmo fica por conta de Tom Hiddleston, que interpreta Loki, meio-irmão de Thor e vilão da história. Hiddleston concebe um interessante antagonista e seu maior feito foi não deixar que seu personagem se tornasse uma figura caricata, um mero vilão de quadrinhos. O talento do ator também impede que seu personagem, claramente um clichê ambulante na mitologia de Thor, se torne algo fútil na trama.

Tecnicamente irrepreensível e com bom roteiro (uma falha aqui e ali, mas nada que prejudique o resultado final), Thor é divertido e certamente uma das mais interessantes peças do quebra-cabeça da Marvel. É sempre bom ver um blockbuster do tamanho de Thor ter esse tratamento, repleto de boas escolhas e boas ideias. Depois desse ótimo exemplar, resta esperar pela óbvia sequência e por Capitão América, que estreia no badalado verão americano. A única certeza é que o super soldado vai ter que rebolar para ser melhor que Thor, e Chris Evans talvez seja ofuscado quando Os Vingadores aportarem nos cinemas, afinal, Robert Downey Jr. e Chris Hemsworth também estarão lá. Um defendendo sua armadura, o outro seu martelo. No meio de tantos astros, há o talentoso Mark Ruffalo. É, Chris Evans também vai ter que rebolar. Mas isso é outra peça nesse interessante mosaico de herois.

Matheus Pereira

Crítica - Os Agentes do Destino

Crítica - "Os Agentes do Destino"



As obras de Philip K. Dick parecem pedir para serem adaptadas para o cinema. Os textos do autor são, na falta de uma palavra melhor, cinematográficos; parece que foram concebidos com o intuito de serem adaptados. "Blade Runner", de Ridley Scott, "Minority Report", de Steven Spielberg, "O Homem Duplo", de Richard Linklater, são alguns exemplos de adaptações de seus textos. Recentemente, George Nolfi (roteirista de "Doze Homens e outro Segredo" e "O Ultimato Bourne", por exemplo) roteirizou e dirigiu "Os Agentes do Destino", mistura de romance e ficção científica bem ao estilo de Dick. "Os Agentes do Destino", assim como outras adaptações das obras do escritor, é um filme que lida com assuntos delicados. Os temas não são tabus ou tópicos para longos debates, mas as histórias exigem bom senso e, muitas vezes, paciência do espectador. Ainda que a ficção científica seja um terreno onde os autores e diretores podem brincar tranquilamente, é difícil crer em "anjos" que usam chapéu e controlam o destino a mando de Deus. Alguns detalhes fazem com que a obra perca um pouco da seriedade, tendo em vista o cenário onde tudo ocorre, mas nada que interfira no resultado final.

A trama é interessante: David Norris (Matt Damon) é um político. Sozinho no mundo desde cedo, Norris parece ter achado suas razões de ser e é o favorito a ocupar um importante cargo da política americana. Porém, antes da eleição, alguns fatos antigos vêm à tona, e Norris acaba perdendo votos, sendo assim derrotado. No dia da derrota, Norris conhece Elise Sellas (Emily Blunt), uma dançarina que desperta um amor quase inacreditável no congressista. Alguns dias depois eles se reencontram num ônibus, e aí as coisas complicam. Norris não pode ficar com Elise. Segundo os agentes do destino (anjos, em outras palavras), Elise não fará bem ao político e será a causa da derrocada de todos os seus sonhos. Seguindo os planos de "Deus" (ou Presidente, como é dito no longa), os agentes fazem de tudo para impedir o relacionamento do casal. Com detalhes interessantes e um bom embasamento, "Os Agentes do Destino" é um ótimo entretenimento inteligente, que só peca por ser absurdo e implausível em certos instantes.

É difícil acreditar, por exemplo, na rapidez com que o amor entre o casal floresce. Ainda que tal amor estivesse escrito nos planos, predestinado há muito tempo, chega a ser absurdo a velocidade com que as coisas acontecem. Tal absurdo só não é insuportável graças à incrível dinâmica entre Damon e Blunt. Os improvisos e a química entre a dupla é tanta, que a veracidade do relacionamento se deve apenas aos dois. O casal exala carisma, e o espectador acaba torcendo pelo futuro de ambos. A existência dos agentes, por exemplo, soa mais crível, afinal, sabemos que se trata de uma peça ficcional da trama, algo irreal que só existe na obra cinematográfica. Ao ver o "anjos" de chapéu, impossível não lembrar os observadores de "Fringe", que no seriado desempenham praticamente a mesma função.

Como dito, "Os Agentes do Destino" é um ótimo entretenimento, mas nunca esquece a história em prol da ação. O objetivo da fita é o suspense e o romance, dosando, entre os gêneros, algumas cenas mais intensas e um humor agradável. Sem tentar ser mais inteligente do que é e sem ser didático, "Os Agentes do Destino" não desperta longas discussões ou intensas reflexões, é um produto divertido com boas doses de criatividade e inteligência. Nolfi, que estreia na direção, não acrescenta nada de novo ao gênero e faz o serviço como deve ser feito, muitas vezes apenas posicionando a câmera e deixando os bons atores fazendo o resto.

"Os Agentes do Destino" é uma boa dica para uma sessão no sábado à noite, ou depois de um longo dia de trabalho ou estudo. É uma fita descompromissada divertida e centrada, não exige muito do espectador, porém não o trata com retardado.

Matheus Pereira

Especial - Zack Snyder - "A Lenda dos Guardiões"



Com "A Lenda dos Guardiões", Zack Snyder prova, de uma vez por todas, que é um cineasta que liga mais para a estética de seus filmes do que para o roteiro. As tramas de suas obras não são terríveis ou desinteressantes, mas não possuem o escopo, a força que outros filmes têm. "A Lenda dos Guardiões", por exemplo, poderia seguir os rumos da infalível Pixar e ser uma animação profunda cheia de nuances e interpretações. Mas o que se tem é um belíssimo filme que até tenta alçar alguns voos mais altos, mas que fica num terreno seguro que faz com que se iguale a outras produções do gênero. "A Lenda dos Guardiões" (primeira animação de Snyder e concebida simultaneamente a "Sucker Punch") é - e não tenho medo de afirmar - a animação mais linda do ano passado. As imagens impressionam e o uso constante da câmera lenta não incomoda tanto, pois o espectador entra na onda do diretor e se vicia nos maneirismos do cineasta. Se Snyder se diverte e se deslumbra com a câmera e com o que os computadores podem fazer com uma animação, nós nos divertimos e nos deslumbramos com belos quadros em movimento. O realismo quase tátil da animação a eleva num patamar invejável, patamar esse tão respeitável que faz com que esqueçamos os vários erros do roteiro. Clichê e ousado na mesma medida (corujas não são os animais mais carismáticos do mundo e fazê-las críveis e interessantes deve ser um trabalho difícil), "A Lenda dos Guardiões" falha principalmente por ser uma animação que não sabe se direciona suas ideias para o público jovem ou para os adultos, já que sua violência e algumas passagens em nada lembram filmes infantis. "A Lenda dos Guardiões" é um filme interessante e belo, ainda que frágil na sua estrutura.

Matheus Pereira

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