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Crítica - Guerra ao Terror


Pouquíssimos são os filmes que melhoram com uma segunda visita. Pouquíssimos mesmo. Enquanto a maioria tende a piorar ou manter a média, uns surpreendem e, ás vezes, nem parecem o mesmo filme. É o caso de Guerra ao Terror, tenso filme de guerra de Kathryn Bigelow, e que atualmente é o favorito (ao lado de Avatar) ao Oscar de Melhor Filme. Na primeira vez que assisti (há uns três ou quatro meses atrás, em DVD), achei um bom filme. Bem dirigido e bem escrito, mas confesso que não achei nenhuma obra prima. Não sei explicar o motivo, mas não achara todo o quadro que pintavam e pintam. Eis que assisto novamente. Justamente para ver se minha opinião mudava. E, com muito orgulho, dou o braço a torcer (nunca achei que diria isso): minha opinião mudou. E muito.

"Em DVD?", você deve se perguntar. "Mas o filme está nos cinemas!", você deve pensar consigo mesmo. Bem, se você ainda não sabe, eu explico: a Imagem Filmes, distribuidora do filme aqui no Brasil, achou que seria um filme ruim, com pouco apelo comercial e resolveu lançar o filme diretamente em DVD, em abril de 2009, antes mesmo da estreia nos EUA (!!!). O resultado: o filme foi tornando-se famoso, angariando prêmios, elogios e acabou sendo escolha certa entre os indicados ao Oscar. É claro que a distribuidora não ficaria para trás e resolveu lançar o longa nas telonas. Na última sexta feira o longa chegou às salas de cinema, mas é claro, muita gente já tinha assistido e o filme pode ser um fracasso, já que muita gente deixa de frequentar o cinema para assistir o filme em DVD, em casa e por um preço bem menor. A única coisa que pode ajudar são as indicações ao Oscar, mas algumas pessoas nem sabem que o filme recebera tais indicações.

Vamos por partes, afinal, Guerra ao Terror é bem mais difícil de analisar do que parece.

Vamos começar pela Direção surpreendente de Bigelow. Confesso (e não entendam o que lerão a seguir como machismo de minha parte), que o filme se torna ainda mais surpreendente por ser comandado por uma mulher. Não que uma mulher seria incapaz de comandar um filme desses, mas convenhamos, não é todo dia que uma mulher dirige um filme de guerra. Surpreende o "pulso" que Bigelow tem sobre seu filme. O clima denso e tenso é incrível, e na Sétima Arte, surpreende que uma mulher tenha sido responsável por tal clima. Além do clima tenso e da carga emocional, Bigelow capricha no visual, e constroi cenas visualmente perfeitas (as cenas de explosões, em câmera lenta, o cartucho caindo em câmera lenta e levantando grãos de areia, entre outras). Bigelow trata seu filme com extremo realismo. Basta esperar alguns segundos de projeção para constatar o estilo semi-documental. Mas é na já citada "densidade" que Bigelow surpreende. A cada bomba desarmada o clima tenso aumenta, e Bigelow usa, além da narrativa, a plasticidade, as imagens. Bigelow aproveita tudo e usa tudo a seu favor.

O roteiro (indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original) de Mark Boal há de ser ter um grande destaque. Primeiro porque é original, afinal de contas, segundo porque é o tipo de roteiro que nunca "cai", está sempre tenso e envolvente. Boal nunca deixa seu roteiro cair na desgraça episódica ou monótona e a cada bomba ou a cada cena nos prende cada vez mais. Os diálogos bem elaborados, peças geralmente descartadas em produções do gênero, chamam atenção, principalmente as palavras que o personagem de Jeremy Renner fala para seu filho, além de serem originais, nos fazem pensar e nos acompanham muito além da sala de cinema. Boal se dedica a seus personagens. À personalidade de cada um. William James (Renner) é o homem que de tanto passar na guerra e desarmando bombas, trocou, aos poucos, sua família, seu lar, seus ideais entre outras coisas. Um homem instintivo, ágil e inteligente, mas que precisa de uma certa dose de adrenalina para sobreviver. Sanborn (Anthony Mackie) é o mais centrado, mais dependente da família e "seguidor de regras". É um bom e forte homem, mas tem suas fraquezas. Um dos personagens mais interessantes, é sem dúvida, o especialista Eldridge. Homem jovem. Típico soldado que quer ação, quer violência, mas que se choca com um simples corpo baleado, por exemplo. A guerra tomara conta do pobre rapaz, que fora do campo de batalha, jogava violentos jogos de video-game. Uma forma de se aproximar da guerra e nunca esquecê-la, e de saciar a sede de ação, mesmo que esta seja através de um video-game. Eldridge é uma mistura incrível de medo e coragem. Ora medroso, ora valente, Eldridge é, em resumo, uma criança posta na guerra, louca para fingir que é Rambo. Uma escolha excelente e corajosa de Boal é acrescentar o menino Beckhan na história. Se parar pra pensar, o menino não é uma simples chave para levar ao ápice emocional, mas sim, para representar os últimos resquícios de vida e emoção presentes em William James, personagem de Renner. O menino jogador de futebol e vendedor de DVDs piratas, pode ser facilmente duas coisas: 1) A infância perdida e sofrida de James. Talvez o menino seja o lado moleque de James, o lado inocente perdido em algum canto. 2) Algum tipo de ligação entre James e o mundo real. O mundo emocional. Beckhan talvez represente o filho de James, e até mesmo sua família. A amizade que nasce entre os dois é tão grande e rápida, que logo pensei: James tomou Beckhan como seu filho temporário. Talvez seja isso, talvez não. Vai da visão de cada um.

O grande destaque (e o filme tem vários) vai para o elenco. Começando pelas pontas magníficas de Guy Pearce, David Morse e Ralph Fiennes (nomes que alavancaram um pouco a fama do filme). Mas são os desconhecidos que roubam a cena. Brian Geraghty (Eldridge) concebe um personagem frágil, com medo, mas com resquícios de coragem. Uma criança. Anthony Mackie concebe um personagem forte, que de início pode parecer superficial, mas que com o tempo mostra-se tridimensional. Mas Jeremy Renner é realmente o grande astro. Renner não tem uma grande cena, daquelas que viram clipes para o Oscar, e sim, uma atuação sublime. Rica em detalhes.

Enfim, Guerra ao Terror é um pacote completo. Tem ação, drama, suspense e um bocado de coisas boas. Altamente recomendável. Bigelow surpreende e concebe este que é, sem dúvidas, um dos melhores do ano.

E claro, assim como a guerra, Guerra ao Terror é uma droga.

Nota: 10,0
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1ª Obs.: Guerra ao Terror recebeu 9 indicações ao Oscar 2010: Melhor Filme, Direção, Ator, Roteiro Original, Fotografia, Edição, Trilha Sonora, Som e Edição de Som.
2ª Obs.: O cartaz lá no topo foi criado por mim. Não é oficial.
Matheus Pereira

3 comentários:

Guerra ao terror é o melhor filme de guerra que já assisti. Surpreendentemente ele não apela para o excesso de exposição de vísceras e todos os outros clichês sempre presentes no gênero. É um filme forte, sincero e direto. Minha torcida está com Bastardos, mas se a Bigellow ganhar, não ficarei nem um pouquinho triste!

10 de fevereiro de 2010 às 12:31  

Ana, não acho o melhor de Guerra não! haushaush Pra mim os melhores filmes de guerra de todos os tempos são "O Resgate do Soldado Ryan" (filme que começou com a tal leva de exposição de víceras e tal)e "Nascido Para Matar" (obra-prima de Kubrick. Torço por Avatar, mas assim como vc, se Bigelow ganhar não ficarei triste.

10 de fevereiro de 2010 às 13:23  

Oi Matheus, blz?
Tb assisti Guerra ao terror há 4 meses. Tb gostei do filme, achei-o muito bom, francamente acima da média, mas não uma obra prima. Muito menos digno de figurar entre os melhores do ano. Revi o filme(em dezembro quando postei sobre ele no meu blog), motivado pelo frisson atual, mas não mudei de opinião. É um bom filme. Longe de ser essa maravilha toda aí.

Bem, para não deixar a peteca cair, assino embaixo dos teus filmes de guerra favoritos. São os melhores para mim. Exatamente esses dois. ABS

11 de fevereiro de 2010 às 22:10  

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